Uma nova perspetiva: como a observação da Terra ajuda a enfrentar os grandes desafios globais
Em 1957, a União Soviética lançou o Sputnik I, o primeiro satélite artificial da história. Embora a sua missão tenha durado apenas alguns meses, abriu caminho para uma revolução tecnológica. Quase sete décadas depois, os satélites tornaram-se parte essencial da vida quotidiana: sustentam sistemas de navegação, permitem previsões meteorológicas e são ferramentas indispensáveis no combate às alterações climáticas.
Hoje, a observação da Terra está no centro de muitas soluções que enfrentam desafios globais. A União Europeia lidera este esforço através do Copernicus, o maior programa de observação da Terra do mundo, lançado em 2014 e gerido em parceria entre a Comissão Europeia e a Agência Espacial Europeia (ESA). Os seus dados, abertos e gratuitos, são utilizados por governos, empresas e investigadores em todo o mundo.
O que é a observação da Terra?
Segundo Jean-Christophe Gros, coordenador de programas da UE na ESA, a observação da Terra consiste em estudar o planeta a partir do espaço, recorrendo a satélites em diferentes órbitas e equipados com diversas tecnologias.
Satélites de radar: conseguem “ver” através das nuvens e operar durante a noite.
Satélites óticos: captam imagens de alta resolução da superfície terrestre.
Satélites com espetrómetros: fundamentais para monitorizar a composição atmosférica.
Estas ferramentas permitem olhar para o planeta de uma forma única e antecipar fenómenos críticos, desde a subida do nível do mar até incêndios florestais ou inundações. Como destaca Gros, estes dados são cada vez mais usados no planeamento urbano e na gestão do território, ajudando a decidir, por exemplo, onde construir uma cidade e onde não construir devido ao risco de cheias.
Satélites contra os gases com efeito de estufa
Um dos contributos mais relevantes da observação da Terra está na monitorização de gases com efeito de estufa, responsáveis pelo aquecimento global. O metano, em particular, é um dos gases mais preocupantes: invisível e inodoro, tem um potencial de aquecimento 82 vezes superior ao dióxido de carbono num período de 20 anos.
Em 2023, a investigadora Emily Dowd detetou um vazamento de metano em Cheltenham, no Reino Unido, usando dados de um satélite da empresa canadiana GHGSat. A constelação GHGSat é capaz de detetar emissões com uma resolução espacial de apenas 25 metros e funciona em articulação com satélites europeus, como o Sentinel-5P do programa Copernicus, que monitoriza gases em escala global.
Além do metano, a ESA prepara agora a missão CO2M, um conjunto de três satélites dedicados a monitorizar o dióxido de carbono com grande detalhe. O primeiro lançamento está previsto para 2025 e promete reforçar significativamente a capacidade de medir e reduzir as emissões.
O olhar do espaço para o futuro da Terra
De 1957 até hoje, os satélites passaram de experiências pioneiras a ferramentas indispensáveis para compreender e proteger o planeta. Da gestão de riscos naturais à deteção de fugas de gases nocivos, a observação da Terra representa uma nova perspetiva sobre os grandes desafios globais e uma oportunidade para tomar decisões mais informadas e sustentáveis.