Mineração inteligente com dados de satélite
Dos minerais que alimentam tecnologias verdes aos metais que sustentam a economia digital, as matérias-primas são a espinha dorsal da transição energética. Elementos como níquel, cobalto, cobre e manganês são essenciais para a produção de baterias, veículos elétricos, painéis solares, chips e aço.
Mas a extração destes recursos traz consigo uma grande responsabilidade: garantir que a exploração e a mineração sejam seguras e sustentáveis, minimizando o impacto ambiental.
Com o apoio da EUSPA – Agência da União Europeia para o Programa Espacial, dois projetos-piloto inovadores demonstraram como os dados de Observação da Terra (EO) podem aumentar a eficiência operacional e a segurança tanto na exploração como na monitorização de atividades mineiras.
Exploração mineral inteligente na Noruega com a Kuniko
À medida que o mundo procura fontes mais sustentáveis de matérias-primas, a empresa norueguesa Kuniko, especializada em metais de bateria com zero emissões de carbono, está a explorar o território norueguês em busca de novos depósitos de níquel, cobalto, cobre e zinco — recursos fundamentais para a transição energética europeia.
No entanto, a exploração mineira é cara, demorada e limitada pelas rigorosas condições climáticas da Noruega. Para enfrentar estes desafios, a Kuniko colaborou com a startup polaca TerraEye, especialista em análise de dados de satélite, no âmbito de um projeto-piloto apoiado pela EUSPA.
Utilizando imagens dos satélites Copernicus Sentinel-2 combinadas com outros dados espaciais, a TerraEye desenvolveu uma solução de deteção remota capaz de:
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Identificar assinaturas espectrais de depósitos minerais;
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Detetar padrões de stress na vegetação próximos de zonas de mineração antigas;
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Sinalizar áreas com maior probabilidade de ocorrência mineral.
Esta abordagem permitiu à Kuniko otimizar o planeamento das campanhas de campo, reduzir custos e riscos, e concentrar os esforços nas zonas mais promissoras. As verificações no terreno confirmaram vários alvos minerais identificados a partir do espaço.
O projeto demonstrou como a combinação entre conhecimento geológico e análise de dados espaciais pode revolucionar as fases iniciais da exploração mineral.
Monitorização da estabilidade do solo no Gabão com a Eramet
Mais adiante no ciclo de vida da mineração, a segurança operacional e a proteção ambiental dependem da capacidade de detetar movimentos do solo antes que se tornem perigosos.
A empresa francesa Eramet, líder mundial na produção de minério de manganês, colaborou com a especialista italiana Tre Altamira para reforçar a monitorização da subsidência em minas ativas e antigas, também com o apoio da EUSPA.
Recorrendo a dados Copernicus Sentinel-1 e técnicas avançadas de InSAR (Radar de Abertura Sintética Interferométrico), a Tre Altamira conseguiu detetar micromovimentos do terreno com precisão milimétrica. Estes dados permitiram à Eramet identificar:
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Áreas com risco de deslizamento;
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Movimentos associados a erosão, aterros ou consolidação de lagoas de decantação;
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Zonas estáveis em torno de barragens de rejeitos.
Os resultados foram integrados numa plataforma online interativa, facilitando a visualização de alterações ao longo do tempo e a deteção precoce de potenciais riscos.
Este projeto comprovou como os dados espaciais permitem monitorizar o terreno de forma contínua, escalável e segura, mesmo em locais de difícil acesso.
Do espaço para o terreno: mineração responsável
O acesso gratuito aos dados dos satélites Copernicus Sentinel é um pilar essencial para tornar estas soluções transparentes, económicas e replicáveis.
À medida que a procura global por matérias-primas aumenta, os exemplos da Kuniko e da Eramet demonstram que as tecnologias espaciais podem tornar a mineração mais eficiente, responsável e segura — desde a prospeção até à prevenção.
A Observação da Terra não é apenas uma ferramenta científica: é um instrumento estratégico para equilibrar as necessidades da economia moderna com a preservação do planeta.
Fonte: https://www.euspa.europa.eu/