Galileo e Copernicus: as tecnologias espaciais que ajudam a UE a combater o desperdício
A União Europeia (UE) definiu uma meta ambiciosa de tornar-se numa economia com desperdício zero até 2050. Para atingir este objetivo, é essencial recorrer a tecnologias inovadoras e implementar estratégias eficazes de gestão de resíduos. Neste contexto, o Programa Espacial da UE assume um papel central, oferecendo soluções valiosas através dos seus componentes de navegação por satélite (GNSS) e observação da Terra.
Um dos pilares deste programa é o GNSS, nomeadamente o sistema Galileo, que desempenha um papel fundamental na otimização da gestão de resíduos. As empresas do setor utilizam o GNSS para localizar contentores de lixo e definir horários de recolha mais eficientes, bem como rotas com menor consumo de combustível.
Para além da geolocalização, o GNSS fornece ainda dados relevantes sobre os padrões de geração de resíduos. Estas informações permitem às empresas prever quando um contentor atingirá a sua capacidade máxima e auxiliam os decisores políticos na definição de políticas públicas e estratégias mais eficazes.
O GNSS tem também um papel importante na monitorização de resíduos eletrónicos (e-waste), um problema crescente à escala global. Nas Filipinas, por exemplo, há empreendedores a explorar o uso desta tecnologia para enfrentar o desafio do e-waste.
A plataforma E-wasto é um desses exemplos. Permite aos utilizadores entregar os seus equipamentos eletrónicos usados a coletores identificados ou localizar o ponto de recolha mais próximo. Utilizando o GNSS, o sistema determina a localização exata do utilizador e define o local de entrega mais conveniente, reduzindo custos de transporte e facilitando a logística inversa.
Com cerca de três mil milhões de smartphones compatíveis com o GNSS europeu, a escolha do sistema Galileo como base tecnológica para a E-wasto foi natural. O projeto planeia utilizar o serviço Galileo HAS, bem como o Galileo OSNMA (Open Service Navigation Message Authentication), que garante maior segurança dos sinais.
Outro componente essencial do Programa Espacial da UE é o Copernicus, o sistema europeu de Observação da Terra. Este fornece uma vasta gama de dados que podem ser utilizados para detetar locais de deposição ilegal de resíduos, fiscalizar aterros sanitários ou identificar áreas adequadas para a construção de novos.
Os governos contam com o serviço Copernicus SESA (Support to EU External and Security Actions) para investigar e monitorizar aterros. Através de imagens de satélite, é possível identificar os tipos de resíduos acumulados, detetar atividades suspeitas e verificar se os locais cumprem a legislação aplicável.
A observação da Terra também contribui para reduzir a pegada de carbono dos aterros sanitários. O projeto AI4Copernicus, baseado em inteligência artificial, analisa imagens dos satélites Sentinel-5 e Sentinel-2, bem como dados recolhidos por estações terrestres, para monitorizar diariamente as emissões de gases com efeito de estufa em áreas próximas de aterros, com uma resolução inferior a 1 km². Esta informação ajuda gestores e autoridades locais a tomar decisões mais sustentáveis.
No combate ao lixo marinho, a Observação da Terra também é uma ferramenta valiosa. O projeto Coastal Marine Litter Observatory da SCIDRONES, vencedor do concurso CASSINI, combina imagens multiespectrais do Copernicus com dados recolhidos por drones e inteligência artificial, permitindo distinguir lixo plástico de detritos naturais e apoiar as autoridades nas operações de limpeza.
Já o projeto Ocean Plastic Alert and Tracking, da GEOMATYS, recorre a observações por satélite e modelos oceanográficos para prever o movimento dos resíduos no oceano, permitindo uma resposta mais eficaz após eventos críticos, bem como ações preventivas de recolha.
Em suma, o Programa Espacial da União Europeia, através das suas componentes Galileo (GNSS) e Copernicus (Observação da Terra), está a desempenhar um papel crucial para que a Europa atinja a meta de um futuro sem desperdício. Estas tecnologias estão a transformar a forma como os resíduos são geridos, como os aterros são monitorizados e como combatemos a poluição, em terra e no mar.